Grávida de Palavras

Semeadura.

Algo dentro de mim com vida própria
movia-se por minhas entranhas
chutava meu ventre,
enfiava seus pequenos pés

por baixo das minhas costelas
por dentro do meu cérebro
pela minha garganta.

Não saía boca afora.

Como mãe,
agarrava-as (as palavras) pensando protegê-las.

Cresciam.
Quando crianças,

penteava seus cabelos,
fazia tranças,
ajeitava suas roupas,
ensinava-lhes os primeiros traços.

Queria torná-las impecáveis.

Adolescentes, saíam pela rua sem me avisar

descabeladas
amarrotadas.

Distraídas, já se achavam donas de si
e de todas as certezas do mundo.
Às vezes queriam colo.

Adultas, são do mundo.
Cada qual a seu jeito

a seu tempo
em seus espaços.

Por aí, ouço falar delas.

Oco em mim.

Novo sêmen.
Algo se mexe novamente em minhas entranhas.
Estou prenha de um novo texto.

 

Florianópolis, 26 de maio de 2016.

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