Grávida de Palavras
Semeadura.
Algo dentro de mim com vida própria
movia-se por minhas entranhas
chutava meu ventre,
enfiava seus pequenos pés
por baixo das minhas costelas
por dentro do meu cérebro
pela minha garganta.
Não saía boca afora.
Como mãe,
agarrava-as (as palavras) pensando protegê-las.
Cresciam.
Quando crianças,
penteava seus cabelos,
fazia tranças,
ajeitava suas roupas,
ensinava-lhes os primeiros traços.
Queria torná-las impecáveis.
Adolescentes, saíam pela rua sem me avisar
descabeladas
amarrotadas.
Distraídas, já se achavam donas de si
e de todas as certezas do mundo.
Às vezes queriam colo.
Adultas, são do mundo.
Cada qual a seu jeito
a seu tempo
em seus espaços.
Por aí, ouço falar delas.
Oco em mim.
Novo sêmen.
Algo se mexe novamente em minhas entranhas.
Estou prenha de um novo texto.